quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Tem início a segunda etapa do Projeto Encontros & Conexões

O Prof. José Roberto, do NEA/UERJ, é apresentado pela
Profª Claudia Costa
Teve início, no último sábado (24/09), a segunda etapa do projeto Encontros & Conexões: [re]descobrindo histórias.  Nesta fase, os cursistas contarão com aulas ministradas por professores-pesquisadores do Núcleo de Estudos da Antiguidade (NEA/UERJ), sobre metodologias de pesquisa em História.  Assim, complementando as discussões acerca da História Local introduzidas na primeira fase, os participantes poderão agregar sugestões de trabalho desses conteúdos, dentro de sala de aula.  O objetivo é apontar possibilidades de pesquisa que visem enriquecer a prática pedagógica, conjugando o conhecimento sobre a cidade e variadas técnicas de abordagem desse tema, junto aos alunos.
Cursistas atentos, nessa segunda fase do Encontros
& Conexões.
Nessa primeira aula, contamos com a presença do professor doutorando José Roberto Paiva Gomes, que destacou algumas questões introdutórias quanto ao uso de imagens em sala de aula.  As imagens, consideradas por correntes historiográficas recentes como documentos históricos de grande importância, podem e devem ser usadas como valioso instrumento pedagógico também!  Em uma sociedade cada vez mais repleta de estímulos visuais, elas podem aproximar o aluno da História, despertando nele o interesse pelo assunto.  Entretanto, como salientou o professor José Roberto em sua fala, devemos propor uma análise crítica, ao trabalharmos com qualquer tipo de documento histórico.  Ao usarmos imagens estáticas ou em movimento (como os filmes, por exemplo), devemos conscientizar os alunos de que tais produções são frutos de uma determinada época ou circunstância e que, portanto, é permeada de carga ideológica própria.  Em outras palavras, ao adotarmos tais recursos em sala de aula, não devemos permitir que nossos alunos os encarem como retratos fieis de um tempo ou porta-vozes de verdades absolutas.  
Dessa forma, aguardamos os próximos encontros, certos de que novas experiências e possibilidades serão compartilhadas entre a pesquisa histórica e a prática pedagógica! 

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Desfile Cívico encerra Semana da Pátria em Queimados: várias escolas mantêm a tradição e desfilam pelo centro da cidade

Os desfiles cívicos, que fazem parte das comemorações envolvendo o 07 de setembro, são uma das tradições de Queimados.  Os mais antigos queimadenses, certamente lembrarão do envolvimento apaixonado do professor Joaquim de Freitas, fundador do Colégio Manuel Pereira, em tais ocasiões.  A banda deste colégio, imortalizada em tantos desfiles sob a regência do maestro Manoel Gibson da Silva e considerada entre as melhores do estado do Rio de Janeiro, não mais participa do evento.  Nesse sentido, percebemos o quanto o tempo passou e algumas características locais foram se perdendo ou se diluindo ao longo dos anos.  O sentimento é, por vezes, de intensa nostalgia.  Esse sentimento, além de evocar o respeito devido à pátria, certamente passa pelas memórias individuais e desperta a consciência de fazer parte da História da cidade, como fica patente nas fotografias a seguir:
Hoje, o Sr. Gentil Gomes Cunha
assiste os desfiles, ladeado por
dois amigos: nostalgia.

Banda do Colégio Manuel Pereira,
em desfile na década de 1960: em
primeiro plano, o Sr. Gentil Gomes.
Em sequência, os Srs.: Valfredo
Nonato, Aécio Monteiro, Roberto
Costa, [não identificado], Lino
Antunes, Norberto Duarte e
Guilherme Xanchão.
















Felizmente, percebemos uma preocupação crítica com esse processo ao observarmos o tema do desfile desse ano: "Queimados: Incluindo, Preservando, Desenvolvendo com Muito Mais Educação."  Considerando as inevitáveis mudanças sociais, políticas e econômicas pelas quais Queimados vem passando ao longo das últimas décadas, não podemos nos esquecer das nossas raízes, do que fomos e nos fez ser o que somos hoje.  Ao nos depararmos com pessoas como o Sr. Gentil, que até hoje acompanha os desfiles e lembra, com emoção, dos tempos em que participava da banda do Colégio Manuel Pereira, temos a certeza de que podemos resgatar essas experiências.
Assim, investigando essas memórias, descobrimos que, em outras épocas, por volta da década de 1960, o desfile (hoje realizado nas imediações da Praça dos Eucaliptos) era realizado na Avenida Irmãos Guinle, por ser a única via calçada no centro de Queimados. 

Desfile Cívico pela Av. Irmãos Guinle:
década de 1960.
O Desfile Cívico em Queimados: 2011.











A exemplo do tema do Desfile Cívico desse ano, também acreditamos que, se o desenvolvimento é desejado e inevitável, ele não precisa, necessariamente, solapar todas as experiências passadas, que constituem a memória de um povo.  Da mesma forma, acreditamos que é por meio da educação que seremos capazes de um dia, quem sabe, equacionar essa tensão entre desenvolvimento e preservação.

Durante o desfile, da esquerda para a direita: o vice-prefeito Dequinha,
Prof. Nilson Henrique, Sr. Luiz Alonso, o Secretário de Fazenda Vilella,
o prefeito Max Lemos, Sr. Tião "Pisca-Pisca" e o ex-prefeito Azair Ramos. 

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Trabalho de campo encerra a primeira fase do "Encontros & Conexões"

O sábado amanheceu friorento e nublado, mas os participantes da primeira fase do Encontros & Conexões não se incomodaram com isso.  A grande maioria estava reunida, pontualmente às 7:30h da manhã e, bastante animados, logo tomou assento em um dos ônibus, disponibilizados pela Secretaria Municipal de Educação de Queimados (SEMED-Queimados) para o evento.
O grupo desembarca na Fazenda
São Bernardino: primeira parada da
nossa visita técnica.
Por volta das 8h, os ônibus saíram da Praça dos Eucaliptos, rumo a nossa primeira parada: a Fazenda São Bernardino.  Lá, muito além das fotos tiradas nas ruínas, o grupo aprendeu um pouco mais sobre a História  de Iguassu e a necessidade de preservação dos lugares de Memória da região.  A Fazenda São Bernardino foi construída por ordem de Bernardino José de Souza e Mello, representante da aristocracia agrário-comercial de Iguassu, na segunda metade do século XIX.  Hoje, infelizmente, bem pouco sobrou de suas estruturas.  Apesar do tombamento, em 1951, o conjunto da fazenda vem sofrendo dilapidações sistemáticas durante todos esses anos: os constantes saques, um incêndio e o desgaste natural têm posto em risco um dos poucos prédios históricos que ainda subsistem na região.  Outra ameaça que merece nossa atenção é a construção do Arco Rodoviário, que passará a poucos metros da sede da fazenda e, inevitavelmente, destruirá a alameda de palmeiras imperiais, que ligava a entrada da propriedade à Casa Grande.
Grupo reunido, em frente as ruínas da casa-sede da Fazenda
São Bernardino.
Chamando a atenção sobre esses e outros aspectos, os professores Manoel Ricardo Simões e Nielson Bezerra discorreram sobre a dinâmica da ocupação humana na região e a multiplicidade de relações estabelecidas no seio da sociedade iguaçuana dos séculos XVII, XVIII e XIX.  O assunto suscitou a curiosidade de vários cursistas, empenhados em compreender um pouco mais sobre a História do seu lugar de origem e visualizar a Iguassu em que o comendador Bernardino José viveu...  Da fazenda, seguimos rumo à, outrora, sede da Freguesia de Iguassu.  Como ressaltaram os professores Nielson e Manoel: é difícil imaginar como um lugar, hoje abandonado, foi no passado, o agitado centro de uma vila.  Da matriz de Nossa Senhora da Piedade de Iguassu, em torno da qual a vila se desenvolveu, sobrou apenas a torre sineira e o cemitério anexo, ainda em atividade.  Do outro lado, ainda podemos observar as ruínas do abandonado cemitério da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário.  Os ritos religiosos ocupavam um lugar de destaque na mentalidade dos homens e mulheres dos séculos XVII, XVIII e XIX.  Na Vila de Iguassu não era diferente!  Sobre isso, o professor Nielson fez interessantes colocações a respeito da relação de brancos e negros, livres ou não, com essa religiosidade.
Em volta do que sobrou da
matriz de N. Srª. da Piedade
do Iguassu.
De lá, seguimos até Tinguá, onde foi citada a importância da Estrada de Ferro Rio d'Ouro, aberta para facilitar o abastecimento de água do Rio de Janeiro.  Os trilhos dessa ferrovia não mais existem, porém, a estação, a caixa d'água e vários outros sinais desse tempo ainda subsistem em torno da praça central do local.  No discurso dos professores, a preocupação com a preservação do Patrimônio Histórico e Natural, uma vez que o Tinguá é mais uma Reserva Biológica ameaçada pelo crescimento urbano desordenado e a especulação imobiliária.  A exuberante natureza, combinada com os ecos de um passado não tão distante compõem uma paisagem magnífica.  Entretanto, precisávamos seguir em frente...
Assim, nosso trabalho de campo prosseguiu pelo areal, na antiga Estrada das Escravas, atravessando o município de Belford Roxo, rumo a Duque de Caxias.  No trajeto, mais sinais do descaso e abandono: verificamos vários "braços" do Rio Iguassu com alto grau de poluição.  Em mais uma fala do professor Nielson, ele chamou a atenção para o fato de que a Fazenda de Iguassu ou de São Bento (que o grupo iria visitar na sequência) estendia seus domínios da sede (em Duque de Caxias) até aquele sítio.  O grupo, apesar de ver despontar os primeiros sinais de cansaço, continuava viajando no tempo, imaginando como teriam sido todos aqueles lugares, há séculos atrás...
Diante da casa-sede da Fazenda de
São Bento: há anos sustentada por
escoras que deveriam ser provisórias...
Chegando ao São Bento, bairro da cidade de Duque de Caxias, seguimos para a sede da fazenda dos beneditinos.  Fomos recepcionados pelo professor Antônio Augusto e, após almoço, os cursistas visitaram uma exposição sobre o Patrimônio Histórico Material e Imaterial de Duque de Caxias, cuja preservação é objeto da luta do Centro de Referência Patrimonial e Histórica (CRPH).  Visitamos a Capela e a sede da Fazenda de São Bento, bem como a sede do Museu Vivo do São Bento, o primeiro museu de percurso da região.  Dando continuidade a nossa visita, fomos até o sítio arqueológico dos sambaquis, uma das paradas obrigatórias para quem visita o Museu Vivo. 
Sambaquis do S. Bento:
fósseis de homem, mulher
e criança envoltos em gesso,
 para conservação.
Além dos amontoados de conchas, característicos desse tipo de sítio arqueológico, a presença de três fósseis humanos (um homem e uma mulher, junto à criança) que, devido à precariedade de recursos para sua preservação, encontram-se envolvidos em camada de gesso para que não se deteriorem no tempo.  Destacamos que, tal ocupação humana é bem anterior aos Tupinambás, uma das várias tribos indígenas encontrada nesse território, quando da chegada dos portugueses!  Assim, os participantes do projeto, mais uma vez, tiveram um exemplo de como a riqueza cultural da nossa terra é imensa, porém, ameaçada constantemente pela insensibilidade ou mesmo descaso do poder público... 
Já passava das 16h, quando saímos, rumo à última etapa de nossa atividade de campo: a Igreja de Nossa Senhora do Pilar, ainda em Duque de Caxias.  Anoitecia rapidamente e, a despeito do cansaço, muito lamentou-se não termos podido seguir até Magé, e visitarmos a antiga estação de Guia de Pacobaíba.  São muitas as riquezas culturais espalhadas ou mesmo escondidas pela Baixada Fluminense e, um dia só, não seria mesmo suficiente para conhecer todas elas... 

Todos reunidos diante da igreja de N. S.rª. do Pilar, em Duque de Caxias:
última parada da nossa visita! 
O grupo se despediu dessa primeira etapa com um gostinho de "quero mais."  Oportunamente, agradecemos à Secretaria Municipal de Educação de Queimados, por ter acreditado e investido na formação continuada dos docentes, no que tange à conscientização, valorização e preservação do Patrimônio Histórico da região.   Lembramos ainda que, após as próximas duas semanas de recesso, retornaremos no dia 24/09, com a abertura do curso sobre Metodologia de Pesquisa Histórica, oferecido pelo Núcleo de Estudos da Atiguidade, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (NEA/UERJ).       
Os professores reunidos: da esquerda para a direita, Péricles,
Claudia Costa, Manoel Simões, Nielson Bezerra,
Antônio Augusto e Nilson Henrique.
 
Para ver mais fotos da nossa visita técnica à Baixada Fluminense, clique aqui!