quinta-feira, 31 de março de 2011

Queimados: breve histórico de uma cidade

  Prof. Esp. Nilson Henrique
Profª. Esp. Claudia Costa 

Queimados é um dos municípios que integra a região conhecida como Baixada Fluminense e dista 47 Km da capital. Tal como os municípios de Duque de Caxias, São João de Meriti, Mesquita, Nilópolis, Belford Roxo e Japeri, o município de Queimados nasceu de um longo processo emancipacionista que o desmembrou de Nova Iguaçu. Com 139.378 habitantes distribuídos por 76,7 Km2,[1] faz limite com os municípios de Nova Iguaçu (norte/nordeste, sul/sudeste), Japeri (noroeste) e Seropédica (sudoeste), e tem sua história marcada pela doação de sesmarias, ainda nos primórdios da ocupação colonial do Brasil, isto é, c. 1565.
Ao longo da História, as terras desta região serviram ao cultivo de gêneros como a cana-de-açúcar e a mandioca e à criação de gado, que visava ao abastecimento interno da colônia. Os rios que cortam a Baixada e deságuam na Baía de Guanabara serviam como vias de escoamento dessa produção, além da abertura gradual e da utilização de caminhos terrestres. Em fins do século XVII, com a descoberta do ouro nas Gerais, a posição estratégica ocupada pela Baixada, do ponto de vista político e econômico, tendeu a se consolidar. Os rios e caminhos terrestres tinham por objetivo transportar o ouro que descia da serra até o porto da nova capital da colônia: o Rio de Janeiro.
Porém, o uso desregrado do solo por sucessivos cultivos (cana, mandioca e, brevemente, o café), somado às condições naturais do terreno (extensas planícies alagadiças), fizeram com que a região experimentasse uma situação de abandono, já na segunda metade do século XIX.  Os portos, antes movimentados, estavam agora esquecidos. As planícies alagadas tornaram-se focos de doenças como cólera e paludismo. 

Porto de Iguassu: 2009
Estado atual do Porto de Iguassu: 2009 - Nosso arquivo

Contribuiu, indiretamente, para essa situação de abandono, a chegada da Estrada de Ferro D. Pedro II (hoje Central do Brasil), em 1858.  O trem era o meio de transporte mais rápido e econômico de então, e a população, que antes vivia ao redor dos vários portos fluviais, migrou rapidamente para as margens da ferrovia.  Ocorrendo em paralelo a essas transformações, foi introduzido na região, o cultivo da laranja, por ser um gênero que não exigia alta fertilidade do solo.
Chácara de propriedade do Sr. Manuel Cruz / futuro bairro São Roque -1932

Com a laranja, a região de Nova Iguaçu (município do qual Queimados viria se emancipar em 1990), passou por novo boom econômico.  As laranjas iguaçuanas eram exportadas para diversos países do mundo, situação que perdurou até meados do século XX.  Com a eclosão da II Guerra Mundial, o tráfego de embarcações pelo Atlântico tornou-se perigoso, chegando a cessar.  As laranjas encalharam.  O mercado interno não absorvia a produção.  A derrocada final veio com a chegada da Mosca do Mediterrâneo, que terminou por arrasar os laranjais.
Nessa época, na região de Queimados, começaram a se levantar as primeiras vozes, defendendo a emancipação do local.  Do fracionamento das propriedades produtoras de laranja, começaram a surgir os bairros que, futuramente, integrariam as cidades da Baixada.  Na década de 40, surgiram os municípios de Duque de Caxias (1943), Nilópolis e São João de Meriti (1947), todos desmembrados de Nova Iguaçu.  Dois acontecimentos foram marcantes na década de 50 do século XX para a população de Queimados: a abertura da rodovia Presidente Dutra (1951) e as comemorações do Centenário da Estrada de Ferro (1958).  Tais eventos significavam a chegada do progresso à região e serviram de base para sustentar os discursos de emancipação.
O presidente Eurico Dutra inaugura a rodovia que leva o
seu nome: década de 50.

Entretanto, o Golpe de 1964, que instituiu a Ditadura Militar no Brasil, deteve a onda de emancipações.  A cassação de liberdades, intrínseca ao regime, provocou o que os geógrafos chamam de inércia territorial: não houve alterações na composição dos municípios que formavam o estado.  No contexto do Regime Militar Brasileiro, a década de 70 marcou um período de maior violência e repressão. Porém, foi ao final dessa mesma década que Queimados assistiu à instalação do Parque Industrial (1979), localizado às margens da Rodovia Presidente Dutra.  A instalação desse parque reforçou ainda mais os discursos que já previam o fim próximo da Ditadura Militar e defendiam, no bojo da abertura política, a emancipação de Queimados.
Jornal Baixadão, de novembro de 1983.
No início da década de 80, fortes chuvas castigaram o Rio de Janeiro e a Baixada Fluminense, particularmente. Em Queimados, então Segundo Distrito de Nova Iguaçu, a situação calamitosa trazida pela enchente e o aparente descaso da administração iguaçuana para com esta área, fizeram com que a população se reorganizasse para reivindicar, com mais força, a autonomia local. Em 1984 foi enviado ofício ao deputado Paulo Ribeiro, então presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, acompanhado de assinaturas de eleitores da 84ª Zona Eleitoral, que reivindicavam a criação de um novo município. Houve, então, um plebiscito que frustrou as expectativas ao assinalar um alto índice de abstenções, atribuído aos eleitores de localidades como Engenheiro Pedreira e Cabuçu. 

Jornal de Hoje / 12 de julho de 1988.

Com a promulgação da Constituição de 1988, articulou-se novamente uma “comissão pró-emancipação”, a qual receberia o nome de A.A.P.Q.: Associação dos Amigos para o Progresso de Queimados.

Reunião na casa de Valtecy Leal.
Direita para esquerda: Luiz Gonzaga, (não identificado), Carlos Vilela, Deputado Paulo Duque, (não identificado), Valtecy Leal, Fátima Cordeiro, (não identificado), (não identificado), (não identificado)

Dessa vez, os limites que formariam o novo município foram definidos, excluindo-se localidades cuja população não se sentia identificada com Queimados (Cabuçu e Marapicu, por guardarem íntima ligação com Nova Iguaçu, e Engenheiro Pedreira, por já estar em articulação; o processo que culminaria na emancipação de Japeri, em 1991). Nessa nova consulta popular (ocorrida em novembro de 1990), os votos pela emancipação foram maioria esmagadora e, apenas um mês depois da realização do plebiscito, o então governador Moreira Franco aprovou a Lei 1773, oficializando a criação do novo município. Entretanto, as primeiras eleições só se realizariam no ano de 1992, quando foram eleitos prefeitos pelo Brasil inteiro.
Nascia assim um novo município: Queimados, que ao longo desses anos vem trilhando um caminho de grandes transformações, visando sempre ao progresso, como já havia percebido os primeiros emancipacionistas, ainda na década de 50.



[1] Segundo Censo do IBGE, de 2009.

sábado, 26 de março de 2011

Exposição: Joãozinho da Goméia - o cotidiano e o sagrado em Duque de Caxias.

Profª. Tânia Amaro, diretora do IH-CMDC, ao lado de alguns
objetos da exposição, pertencentes a Joãozinho da Goméia.
Na última 5ª feira (24/03/2011), no Salão de Exposições do Instituto Histórico-CMDC, foi aberta a exposição Joãozinho da Goméia: o cotidiano e o sagrado em Duque de Caxias.  A mostra, além de lembrar um dos líderes religiosos mais populares da Baixada Fluminense, se insere nas comemorações por ocasião do Dia Municipal da Cultura em Duque de Caxias.
Na abertura da exposição, a professora Tânia Amaro (diretora do IH-CMDC) e o presidente da Câmara Municipal de Duque de Caxias, o vereador Mazinho, ressaltaram a importância de iniciativas como essa, que visam resgatar o passado da cidade e discutir um assunto sempre tão atual quanto polêmico: o respeito à diversidade cultural e religiosa.
No decorrer de sua fala, o vereador Mazinho destacou a importância do local onde foi o terreiro de Joãozinho da Goméia como um espaço de Memória, sinalizando a proposta de transformação do referido local em um Centro Cultural da Diversidade.  Na presença de representantes de várias instituições da cidade de Duque de Caxias, a ideia lançada pelo vereador, foi muito bem acolhida.
Após esse momento, foi a vez do professor Antônio Augusto Braz, vice presidente da Associação de Amigos do Instituto Histórico (ASAMIH), destacar a importância da História como construção cotidiana e coletiva.  Dentro dessa perspectiva, Antônio Augusto reforça o interesse, sempre renovado, pela História Local e pela contribuição variada dos caxienses (nascidos na cidade ou migrantes, como o homenageado baiano, Joãozinho da Goméia) na construção dessa história.
O vereador Mazinho e a professora Tânia Amaro entregam
singela homenagem à Mãe Kitalla, outrora filha de santo de
Joãozinho da Goméia.
Ao final da cerimônia, o vereador Mazinho e a professora Tânia entregaram à Mãe Kitalla, uma reprodução da extinta revista O Cruzeiro, datada de 1967, em que Joãozinho da Goméia aparecia ladeado por duas de suas filhas de santo, uma delas, Kitalla.  Após essa justa homenagem, a mostra foi aberta à visitação de toda a comunidade.
De nossa parte, consideramos de grande importância toda e qualquer iniciativa como essa.  Duque de Caxias e seus habitantes, assim como Queimados, fazem parte desse todo chamado Baixada Fluminense, que tem muita história para contar!  Esperamos que, a partir desses pequenos gestos, possam ser despertados o interesse e a consciência  da população local a respeito de sua história.

Vereador Mazinho (presidente da Câmara Municipal de Duque de Caxias), Professor Nilson Henrique (representante da Secretaria Municipal de Educação de Queimados) e Professor Antônio Augusto Braz (presidente da APPH-Clio).

domingo, 20 de março de 2011

Os símbolos da cidade: o brasão.

Tão logo tomou posse a primeira administração queimadense, fez-se necessária a promoção de concurso a fim de escolher os símbolos que representariam a cidade: o brasão, a bandeira e o hino.
O brasão, que observamos abaixo, foi escolhido entre os projetos de 33 candidatos e, assim como a bandeira, é de autoria de Luciano Damasceno da Costa, na época, estudante do 2º ano do Ensino Médio Técnico em Informática do Centro Educacional Betel I.
Os 33 trabalhos foram  submetidos à análise de uma comissão composta por indicação do Colégio Brasileiro de Genealogia e Heráldica do Rio de Janeiro.  Dentre as exigências, destacamos que o brasão devia conter dados econômicos, geográficos e históricos do município.
Assim sendo, o brasão é composto dos seguintes elementos icônicos:
1) É encimado por cinco torres, representando, simbolicamente, um município.
2)   Na lateral esquerda, um elemento que representa a cultura do milho.  À direita, observamos elemento que representa a cultura da mandioca.  A presença de tais símbolos, nos remete aos primórdios da colonização, onde a região destacou-se como produtora de tais gêneros, visando o abastecimento local e do Rio de Janeiro.
3) Unindo os elementos representativos das culturas de milho e mandioca, um listel (espécie de faixa), contendo o nome da cidade e duas datas: 1858 e 1990.  A data mais recente, alude à conquista da emancipação política.  Nos chama a atenção a data de 1858, balizando a chegada da Estrada de Ferro à localidade, o que, no imaginário popular, assinala a criação do povoado e o primeiro sinal de progresso que chegou à região.
4) No escudo, observamos que o primeiro terçado (o escudo é dividido em três partes) encontram-se elementos que representam a citricultura, principal fonte econômica da região na primeira metade do século XX, e a citada ferrovia, que ligou Queimados ao Vale do Paraíba e ao Rio de Janeiro, ainda no final do século XIX.
5) No segundo terçado, temos representado o relevo típico da região, com maciços em forma de "meias laranjas", isto é: pequenos morros arredondados.  As cinco estrelas amarelas representam vilas que deram origem ao município: Vila das Mangueiras, Vila das Porteiras, Vila dos Bambus, Vila de Tinguá e Vila de Camorim.  Ressaltamos que, algumas dessas localidades foram bairros formados a partir do fracionamento das terras da Fazenda do Weimschenck (Fanchém), quando do colapso da citricultura, a partir da década de 40.  O Dr. Guilherme Weimschenck, dono das terras, foi um dos grandes produtores de laranja da região. Com o loteamento das terras da antiga propriedade, várias ruas abertas nesse contexto receberam o nome de funcionários da fazenda: a singela homenagem, hoje pode ser um dos pontos de partida para uma pesquisa da História Local...
6) O terceiro terçado traz um elemento iconográfico que representa uma fábrica, aludindo à implantação do Parque Industrial, na década de 70, às margens da Rodovia Presidente Dutra.

Fonte:  VÁRIOS. Queimados: do sonho à realidade. SMECD/Queimados: s/d.