sábado, 10 de dezembro de 2011

Histórias de família, histórias de Queimados...

Sr. Geraldo e o Prof. Nilson: muita história pra contar...
Na última 4ª feira, dia 07/12/2011, seguimos com nossas câmeras, olhos e ouvidos aguçados, ao encontro de mais um pedacinho vivo da História de Queimados.  Eram mais de 18h quando chegamos à casa do Sr. Geraldo Ferreira dos Santos e fomos muito bem recebidos por sua neta, Rafaela Santos.  Foi por intermédio dela e de seu namorado, Kauan Jorge, que nos foi possível agendar essa entrevista.  Ao entrarmos na casa, nosso entrevistado descansava em uma poltrona e, bastante empolgado, logo começou a compartilhar conosco suas memórias, lembranças de uma longa trajetória vivida em Queimados.  Para que nada lhe escapasse, observamos que o Sr. Geraldo teve o cuidado de manter algumas anotações que julgou ser importantes, ao seu alcance, no bolso da camisa.  E essas anotações renderam muitas histórias!
Da infância, ele recorda dos laranjais que, no início de século XX, tomavam conta da paisagem da região.  Ele nos dá uma dimensão aproximada da extensão das terras que pertenciam a sua família (que hoje é o Bairro de São Cristóvão) e recorda, com admiração, da figura do Dr. Guilherme Weinschenk, dono da maior fazenda dedicada à citricultura em Queimados.  Segundo relatou o Sr. Geraldo, por ocasião de datas como o Natal, o Dr. Guilherme promovia festas abertas à comunidade, onde havia distribuição de brinquedos para as crianças e prêmios em dinheiro para os adultos. 
O Sr. Geraldo recorre aos seus apontamentos para continuar
nossa viagem no tempo...
Esse era um tempo bem diferente do que hoje presenciamos em Queimados.  Até a década de 1940, toda a economia local girava em torno da produção de laranjas para a exportação.  As relações sociais que se teciam, eram perpassadas por essa realidade.  Assim, as oportunidades de trabalho estavam atreladas, inevitavelmente, à citricultura.  Da mesma forma, as escolas e as possibilidades de estudo eram reduzidas.  A esse respeito, o Sr. Geraldo nos relata que precisava se deslocar, diariamente para Nova Iguaçu, onde estudava no Colégio Leopoldo Machado.  Ele destaca que nessa época, a eletrificação da estrada de ferro ainda não havia sido concluída e que, por isso, era necessário todo um aparato para tomar o trem e garantir a chegada à escola com o uniforme adequadamente limpo.  Isso ocorria porque a fuligem liberada pela queima do carvão, de acordo com o Sr. Geraldo, se impregnava facilmente na roupa dos passageiros, exigindo, portanto, a utilização de jalecos e "guarda-pós" durante a viagem.  Tempos singulares, aqueles...
Do tempo de infância, o Sr. Geraldo Santos passou a falar da juventude, quando começou a trabalhar e conheceu Dona Irene de Souza Couto, que se tornou sua esposa.  Sobre esse período, ele relembra que a eclosão da Segunda Guerra Mundial fez com que o trânsito de embarcações, que trafegavam pelo Atlântico, praticamente paralisasse.  Consequentemente, a exportação das laranjas foi seriamente prejudicada, o que contribuiu decisivamente para o declínio de sua produção.  Enquanto via seu pai loteando a propriedade da família, o Sr. Geraldo largou os estudos e começou a trabalhar.  Seu primeiro emprego foi na ferrovia, como apontador de frequência dos funcionários, quando da eletrificação do trecho entre Nova Iguaçu e Belém (atual Japeri).  Ele relembra que os postes que sustentavam a fiação eram produzidos em Austin e que, a substituição da antiga Maria Fumaça pelas máquinas elétricas representava, simbolicamente, o progresso chegando à região. 
Na despedida: nosso fotógrafo, João Batista, Profª. Claudia,
o Sr. Geraldo e o Prof. Nilson.
Ele discorreu ainda sobre os filhos e netos e sobre sua opção em não se envolver com a política local.  Apesar dessa postura, o Sr. Geraldo afirma que, por ocasião do plebiscito que decidiu a emancipação de Queimados, votou favorável à criação do município.  Ao indagarmos o por quê desse voto, os argumentos mencionados por nosso entrevistado só servem para endossar os tradicionais discursos que ressaltam o descaso iguaçuano para com o seu Segundo Distrito como pedra de toque para a emancipação. 
Quando deixamos a casa do Sr. Geraldo Santos, já era noite e chuviscava em Queimados.  Fomos embora felizes, com aquela certeza de dever cumprido, por termos tido a oportunidade ímpar de registrar mais um importante depoimento sobre a história da cidade.  Nos sentimos felizes também por constatarmos, mais uma vez, que nossa história permanece viva e pulsante, a cada esquina, rua ou praça da cidade, a espera somente de um ouvido atento e de mãos dispostas a escrevê-la...
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* Fotos: João Batista.

4 comentários:

  1. muito boa essa matéria , nota 10 !!!

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  2. Foi muito bom conhecer mais um pouco da história de Queimados através da entrevista com o Sr. Geraldo. Parabéns pelo trabalho exaustivo de reconstrução da história da cidade e que esse trabalho continue se perpetuando pelas escolas para que nossos alunos conheçam o lugar aonde vivem.

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  3. Gostaria de compartilhar com os demais leitores sobre a história de Queimados, meus Tataravô que veio de Portugal e casou-se aqui em 1881, também foi um grande latifundiário, fazendo parte da Fazenda Morro do são João, hoje atual Vila São João, que na época foi local de cultivo de laranjas. No meu ver deveria ser feito um trabalho para buscar quanto as memórias de Queimados, pois como se tratava de distrito de Nova Iguaçu, muita coisa não se sabe.

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  4. Meu Avô era administrador da fazenda Wainschenk. Sr Dermeval Gouvea era casado com D. Zélia Gouvea Lopes .

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