segunda-feira, 18 de junho de 2012

Resenha: “O espaço biográfico nas ciências sociais” de Leonor Arfuch*

O espaço biográfico nas ciências sociais é o sexto capítulo da obra intitulada O Espaço biográfico – dilemas da subjetividade contemporânea, de autoria da professora Leonor Arfuch e que foi publicado no Brasil pela EdUERJ, em 2010.  Arfuch é argentina, doutora em Letras pela Universidade de Buenos Aires, onde atua junto às Faculdades de Ciências Sociais e de Arquitetura, Desenho e Urbanismo e  também, especialista em Análise de Discurso e Crítica Cultural.    No referido texto, a autora destaca a importância dos “métodos biográficos”, que permitem abordagens pluridisciplinares, envolvendo áreas de saber, como a antropologia, a linguística, a etnologia, a sociologia etc.  Assim, delimita dois objetivos, que pretende atingir ao longo do capítulo:
Primeiro: analisar, comparativamente, os procedimentos empregados nas práticas dialógicas, tanto no caso das entrevistas midiáticas quanto no caso das entrevistas científicas.
Segundo: estabelecer uma base teórico-metodológica de análise, que possibilite a interpretação dos relatos de vida, para uma análise social do discurso.
Deslindando esses objetivos, Leonor Arfuch estabelece as semelhanças e as diferenças entre as entrevistas midiáticas e as entrevistas científicas.  Sobre essa questão, ela afirma que ambas modalidades de entrevistas trazem a marca da chamada “autoria conjunta”, isto é, da relação subjetiva estabelecida entre entrevistador e entrevistado.  Da mesma forma, ambas estão situadas no bojo da aceleração e expansão massiva de meios de comunicação, do crescimento das cidades, em suma: na contemporaneidade, a que remete o subtítulo da obra.   Não obstante, segundo Arfuch, as entrevistas midiáticas se constituem “um gênero em si mesmo, independente da temática que aborde e de sua possível tipologia...”, ao passo que as entrevistas científicas sempre pressuporão um estágio inicial “em direção à elaboração de um produto-outro...” (ARFUCH, 2010: 242).  O ponto de interseção entre essas duas modalidades de entrevista é demarcado pela atuação da Escola de Chicago que, no contexto do Pós Primeira Guerra, deu ênfase às abordagens socioantropológicas, que introduziram a utilização de entrevistas (a pesquisa oral, o que acaba por alçar a biografia à evidência) e, com elas, a ampliação dos métodos de pesquisa na área das Ciências Humanas e Sociais, democratizando as vozes e as narrativas do passado. 
Registro da entrevista com o Sr. Luís
Gonzaga, que participou ativamente
das lutas pela emancipação de
Queimados.
Se debruçando sobre seu segundo objetivo nesse capítulo, Leonor Arfuch propõe  a aproximação entre as Ciências Sociais e a Literatura, na medida em que as narrativas biográficas, como campo de ação da Literatura, buscam abarcar “o horizonte vivido de todas as experiências.”  Ainda assim, ela salienta que o pesquisador deve estar permanentemente consciente quanto à impossibilidade de revivificação do contexto histórico, por meio da narrativa.  Além disso, deve também investigar o contexto de produção das identidades coletivas e variáveis, evitando assim, a supervalorização das singularidades ou das exceções às regras sociais.  Dessa forma, Arfuch aposta na Análise do Discurso, levando em conta as seguintes questões:  a produção dialógica do sentido do dizer; as dificuldades da construção de um relato de vida; a análise das modalidades enunciativas, de forma que não as reduzam, nem tampouco as desestruturem; a polifonia ou confrontação de vozes e relatos simultâneos, bem como a sensibilidade para perceber, nos hiatos, esquecimentos e silêncios, indícios relevantes para acessar as memórias do entrevistado.
Fotografia tirada durante entrevista
com o Dr. Jorge Cunha, primeiro
prefeito de Queimados.
Sendo assim, ao inscrevermos nossa pesquisa sobre a emancipação da cidade de Queimados no âmbito da História Regional (noção de Baixada Fluminense como região periférica do estado do Rio de Janeiro em fins do século XX) e também da História do Tempo Presente, consideramos que as propostas de Leonor Arfuch são bastante significativas para o nosso trabalho.  Ao trabalharmos com entrevistas e abordarmos o mesmo recorte cronológico adotado por Arfuch - qual seja o da reabertura política, ocorrida após o fim das ditaduras militares tanto no Brasil quanto na Argentina - identificamos um período de ressignificação dos conceitos de democracia e cidadania, um processo que se desdobra até hoje.  No seio desse período, se desenrolaram as lutas pela conquista da autonomia queimadense frente a Nova Iguaçu.  Acreditamos que a coleta e a análise dos depoimentos de pessoas que viveram e/ou participaram desse momento da história da cidade tem muito a contribuir para uma escrita da história de Queimados.  


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ARFUCH, Leonor.  “O espaço biográfico nas ciências sociais.”  In O Espaço Biográfico: dilemas da subjetividade contemporânea. Trad.: Paloma Vidal. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2010, pp.: 239-275.  A resenha desse texto foi apresentada sob forma de seminário, pela mestranda Claudia Patrícia de Oliveira Costa, para disciplina  Biografia e História: usos, interseções e implicações teóricas, ministrada pela Profª. Drª Márcia de Almeida Gonçalves, do PPGH-UERJ

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