quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Construindo a História: a época dos laranjais

 Entre fins do século XIX e início do século XX o cultivo da laranja surge como alternativa para a extensão das terras erodidas por séculos de cultivo desregrado da cana e do café e pelo desmatamento indiscriminado de considerável área verde, feito com o intuito de expandir as áreas cultiváveis e alimentar os engenhos. Com o abandono das terras e a falência de várias fazendas, os proprietários que ainda sobreviveram à débâcle encontraram solução para o problema no fracionamento das terras, empregando-as no cultivo da laranja por meio da venda dessas glebas ou o seu arrendamento. 

Laranjais em Queimados - arquivo da Família Pires 

A região de Queimados apresentava grandes extensões de terras sob a posse de poucas pessoas, o que de certa forma contrariava a tendência geral da citricultura, que assentava-se no parcelamento / arrendamento das terras para o cultivo e beneficiamento do produto. Isso não significa, no entanto, que não houvesse uma produção expressiva de laranjas nessa área.
As possibilidades de empregos geradas pela citricultura atraíam considerável número de pessoas a Nova Iguaçu, ainda que em muitos casos o trabalho fosse temporário, ligado à época da colheita/beneficiamento da laranja. Esse deslocamento populacional fez com que o número de habitantes do município saltasse de 33.396 para 140.606, entre os anos de 1920 e 1940. Somando-se os distritos agrícolas de Nova Iguaçu, Cava, Bonfim e Queimados, estima-se que o aumento populacional verificado nas mesmas duas décadas foi de 18.707 para 43.167!
Entretanto, o fracasso da citricultura veio em finais da década de 40. Esse colapso foi fruto da combinação de fatores tais como a paralisação do tráfego marítimo entre Brasil e Europa, por conta da Segunda Guerra Mundial e a rápida proliferação da Mosca do Mediterrâneo, parasita que completou o arrasamento dos laranjais.
Do fracionamento de várias fazendas desse período, surgiram os bairros da futura cidade de Queimados.


Laranjal em Queimados - arquivo da Família Pires
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Um comentário:

  1. O município de Nova Iguaçu, à época, era o maior produtor de laranjas do Brasil. A fruta produzida na região possuía casca fina e era muito apreciada. O tio Turíbio já trabalhava no ramo há bastante tempo, contava com estrutura de bom porte para produzir, tratar, embalar e exportar laranjas. Sua situação econômica era confortável, pois era proprietário de um enorme prédio com todo o instrumental para o trato das frutas em Mesquita, boa casa residencial onde morava com a família, além de escritório na Praça Mauá, próximo ao Cais do Porto, portanto local privilegiado no Rio para tratar de exportações, isto sem falar em vários outros imóveis que possuía. Mantinha bom relacionamento com proprietários de terras e com os produtores da região e uma grande experiência no ramo. Assim, poderia ajudar a conseguir alguns hectares de terras para que meu pai arrendasse e, com o trabalho próprio e dos filhos, iniciar a formação do sítio e começar a plantar as mudas na formação do laranjal. Uma vez conseguido a parcela de solo e assinado o contrato com o fazendeiro dono de todas as terras da região, começou a fazer a preparação do terreno para a finalidade em que ele se destinava. Em determinadas partes do mesmo, além da plantação de laranjas, poderia ao mesmo tempo começar a formação de lavoura de subsistência, como: outras frutas, legumes e verduras que o auxiliariam na manutenção da família enquanto o pomar não começasse a produzir. Haveria, assim, grande possibilidade de êxito. Se no decurso do projeto houvesse dificuldades financeiras intransponíveis, o financiamento que fosse conseguido com o cunhado poderia vir a ser quitado no futuro com a venda dos frutos da propriedade. Com essas perspectivas, meu pai resolveu tentar a vida ainda como agricultor, só que por conta própria.

    Naqueles tempos, o plantio da fruta no município era enorme. As melhores glebas de terras da fazenda São Leopoldo, em Mesquita, já haviam sido arrendadas e contavam com laranjais formados e produzindo. Assim, ele só conseguiu um pequeno vale entre serras. A gleba disponível era constituída de pequenas e grandes elevações e continha absurda quantidade de pedras. Portanto, terras de trato difícil, sem possibilidade de utilização de qualquer máquina. A parte arrendada não ocupava todo o vale. Tinha como ponto positivo um córrego de águas límpidas que atravessava todo terreno na sua parte mais baixa. A partir do córrego, as terras se elevavam de ambos os lados até meia altura de outras serras. O terreno se encontrava localizado após o topo de uma montanha de difícil acesso, foi a melhor que pode conseguir. Na região não existia mais qualquer gleba em melhores condições que pudesse ser arrendada. Assim, o jeito foi ele se arranjar com este pedaço de terra mesmo. Aí toda a família iniciou uma nova vida repleta de sacrifícios, enfrentando todas as dificuldades que o futuro incerto lhe reservava.

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