sábado, 23 de julho de 2011

Poeira, páginas amareladas, cheiro de coisa velha: recolhendo pistas do passado, aí vai o historiador...

"Mesmo que saiba fazer funcionar as máquinas de seu tempo, o historiador permanece um 'errante' que frequenta as margens e os caminhos."*

Escolhemos começar esse artigo com a frase em epígrafe, de Roger Chartier, pois acreditamos que ela transmite, em poucas palavras, as angústias que permeiam o complexo trabalho do historiador.  É um empreendimento que, como o próprio Chartier sugere no título de sua obra, situa-se "à beira da falésia", pois nem sempre os vestígios que nos sobram do passado, são de fácil interpretação.  Mais que isso: as interpretações sobre um mesmo fato podem ser múltiplas, dependendo das fontes, da teoria, da metodologia e do lugar de fala do próprio historiador.  Contudo, se esse é um grande desafio, também é uma das coisas mais prazerosas de se pesquisar em História: não existe fórmula e nem resultados exatos ou previsíveis.  Nosso trabalho pode ser comparado ao de um investigador, que possui apenas alguns testemunhos e vestígios deixados na "cena do crime," para que possa tentar "elucidar o caso..."  
Em meio aos jornais antigos, à procura
de "pistas..."
Bem, imbuídos dessa missão de "fazer falar" as vozes do passado, decidimos mergulhar, por assim dizer, nos arquivos do Jornal de Hoje, periódico popular iguaçuano que completará 40 anos de existência ainda em 2011.  A missão?  Buscar notícias que abordassem a situação de Queimados, ainda como Segundo Distrito de Nova Iguaçu, à época dos plebiscitos que decidiram sua emancipação.  Por que procurar por isso em um jornal? Porque trata-se de uma fonte de caráter popular e também formadora de opinião.  Esperamos, por meio da análise desses exemplares de jornal, perceber um pouco das construções que fizeram parte do imaginário coletivo no período que antecedeu a emancipação queimadense.  A tarefa não é fácil mas, para isso, contamos com o apoio e a inestimável boa vontade dos funcionários do Jornal de Hoje, que nos franquearam o acesso aos exemplares do jornal, que circularam nos anos de 1988, 1989 e 1990.    
Prof. Nilson e o Sr. Josias:
auxílio inestimável para
nosso acesso ao jornal.
Assim, entre páginas amareladas e, por vezes empoeiradas, vamos passando vários dias, anotando, fotografando, tirando conclusões parciais sobre o cotidiano na Baixada Fluminense e, especialmente Queimados, no final da década de 1980.  Nem sempre, porém, encontramos o que esperávamos... mas isso também faz parte do ofício do historiador: saber ouvir e compreender os possíveis significados do silêncio, da aparente ausência de informações sobre um dado período.  Alí, debruçados sobre os grossos volumes encadernados do Jornal de Hoje, empreendemos uma espécie de viagem no tempo, um sonho antigo do Homem, e quase não percebemos o tempo transcorrer.  Longe de ser uma atividade enfadonha, retornamos no dia seguinte, sempre na expectativa de encontrar mais informações, mais testemunhos que nos permitam apontar hipóteses para a análise desse passado...


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*CHARTIER, Roger. À beira da falésia - a história entre certezas e inquietude. Porto Alegre: Editora UFRGS, 2002. - p.: 157.

3 comentários:

  1. A história como Área de conhecimento,tem passado por transformações significativas.Imaginamos que queremos o regate de nossa história.Portanto, esse resgate já começou, devido ao profissionalismo e paixão do meu amigo Nilson Henrique pela história, pela nossa história.
    Hoje, mais do que nunca, ser educador é compreender o mundo. Compreender o mundo é ser educador. Vivemos um momento grave da história da humanidade, ramificado por conflitos generalizados, entre a estética, uma simbologia da complexa virtualidade, que provoca a insurreição do pensamento, isto é, ataca toda produção memorialística e ocupacional da mente humana. O atual momento está por exigir também dos educadores uma reflexão e uma discussão profunda.
    Fico feliz por encontrar em Nilson Henrique essas qualidades.
    Péricles Gomes

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  2. O trabalho com as fontes é sempre uma experiência fascinante; quando as lemos com imaginação e coração é sempre um diálogo com o passado. Nesse sentido, discordo muito da noção de que o ofício do historiador é "solitário"; pelo contrário, estamos sempre acompanhados de nossos "camaradas" do passado! Excelente post, parabéns!

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  3. Ai professores, que linda empreitada vcs tem pela frente!!! Estou super curiosa para ler os próximos posts deste blog dado o reviver que nos aguarda! Levantar o passado, dar suporte ao presente e dignificar o futuro, a missão de vcs é DEZ!!! PARABÉNS E OBRIGADA!!!!

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