"Vivemos uma era de colecionadores. Registramos e guardamos tudo (...) Existe um culto ao passado, que se expressa no consumo e mercantilização de diversas modas 'retrô' (...) No espaço público, os arquivos crescem, as datas comemorativas se multiplicam, a necessidade de placas de recordação e monumentos são permanentes. E os meios de comunicação massivos estruturam e organizam essa presença do passado em todos os âmbitos da vida contemporânea." (JELIN, 2002: 9)
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De cima para baixo - Luiz Alonso, Carlos Vilela e Josias Mattos: pessoas que fizeram parte do movimento pró emancipação, durante entrevistas para o nosso projeto. |
Sem dúvida, a memória coletiva é um campo bastante instigante, a partir do qual podemos propor a escrita da história da cidade. Nessa perspectiva, percebemos que o "incômodo" revelado pelos depoentes, coloca em choque passado e presente, da mesma forma que introduz dúvidas acerca do futuro que se deseja para si e para Queimados. As múltiplas memórias, que tem sido compartilhadas conosco ao longo dessa pesquisa falam muito sobre a identidade queimadense, que vem sendo gradualmente forjada desde a época da emancipação.
Ao iniciarmos nossas pesquisas, nos debruçando sobre as disputas e tensões relacionadas à memória e à identidade, percebemos que a documentação pertinente aos debates que conduziram à emancipação queimadense estão dispersos em acervos particulares. Essa constatação nos conduz a pensarmos criticamente sobre as dificuldades representadas pela quase total ausência de políticas públicas que prevejam a guarda e a preservação de tais documentos. Observamos, com evidente preocupação, a forte possibilidade de perda sistemática desses registros, sem que se possa preservá-los adequadamente e sem que eles sejam acessíveis ao público, quase sempre desejoso de conhecer um pouco mais da sua história.
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Registro de reunião da "Comissão Pró- Emancipação de Queimados, Engenheiro Pedreira, Japeri e Cabuçu", em 1988: primeiro momento da luta pela emancipação. |
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Panfletos distribuídos à população, por ocasião do segundo plebiscito pela emancipação. Arquivo particular de Nilson Henrique. |