As
fontes imagéticas constituem valiosa e instigante tipologia documental a ser
explorada por historiadores, arqueólogos, antropólogos, assim como pesquisadores
das ciências naturais. Entretanto, nem
sempre essa foi uma possibilidade aceita pela historiografia. Durante muito tempo, especialmente durante os
séculos XVIII e XIX, historiadores tendiam a supervalorização da documentação
escrita, considerada oficial.
Entretanto, a invenção da daguerreotipia, precursora da fotografia, ainda na primeira metade do século XIX, muito contribuiu para a superação dessa tendência historiográfica. Logo que foi criada, a fotografia adquiriu a reputação de registro fiel da realidade. Esse juízo pode soar um tanto irônico hoje, em tempos de uso quase indiscriminado de recursos de softwares como o Photoshop. Porém, mesmo a partir de fins do século XIX e através do século XX, a fotografia já sofria contestações significativas ao seu status de "portadora da realidade." Esse debate, levado à academia, tem produzido interessantes trabalhos, no sentido de buscar compreender o estatuto da fotografia, seus usos pela história e possibilidades metodológicas para sua abordagem.
Vasco Giacometti registra, com suas lentes, um grupo de fotógrafos no Rio de Janeiro - década de 1940. |
Vasco Giacometti, o "fotógrafo do Centenário" Foto: Viriato Giacometti - década de 1950. |
Vasco Giacometti chegou a ter dois estúdios na cidade do Rio de Janeiro, antes de se mudar com a família para Queimados, e estabelecer estúdio próximo ao Colégio Manoel Pereira. As fotografias, que registraram os festejos do centenário da estrada de ferro em Queimados, são dele: o primeiro foto-jornalista que atuou na região. Com trabalhos publicados até em revistas no exterior, o senhor Vasco trabalhou como fotógrafo, em uma época em que as fotografias eram produzidas em processo quase artesanal. Desse trabalho, Ângela dá o seu testemunho:
"Hoje a fotografia é uma coisa que você pega uma máquina... A máquina fotográfica é um lazer. Naquela época, você retocar era tortura. Gasto, para fazer um 3 X 4 bem retocado, você gastava uma hora e meia sob uma luz, com um lápis, com uma ponta de cinco centímetros, feita com lixa finíssima, mais fina que uma agulha, e você tinha que ficar com o negativo e um vidro fosco sob uma lâmpada. Então, pra cada 3 X 4, era o mínimo de uma hora e meia pra dar um retoque aprimorado."
Ângela Giacometti Ribeiro e seu marido, Walmir Ribeiro: o cuidado em manter vivas, as memórias da família. |
De fato, percebemos aí, mais uma marca inquestionável da modernidade: o caráter quase descartável das fotografias, atualmente. Todo o meticuloso trabalho do fotógrafo daquela época, desde a escolha do equipamento e do filme até o processo de revelação e retoque das fotografias, se dilui na tecnologia que nos permite reproduzir uma cena quase instantaneamente e descartá-la, caso o registro não tenha sido satisfatório. Para as imperfeições ou para as marcas da ação do tempo nas fotografias, um bom computador e a utilização dos softwares apropriados resolvem o problema em poucos minutos.
Compreendemos que o fenômeno da modernidade traz em si essas contradições. Ao mesmo tempo em que apura e refina as técnicas do trabalho fotográfico, também dota tais registros de uma efemeridade quase banal. Hoje em dia, qualquer um pode ter uma máquina fotográfica e, com ela, fazer seus próprios registros de uma festa ou qualquer outro acontecimento. Os avanços tecnológicos permitiram que elas estivessem presentes em celulares e tablets, sendo transportadas, muito facilmente, para qualquer lugar.
Locomotiva "Brasil," identificada pela população, à época dos festejos do centenário da ferrovia, como "Baronesa" - 1958. Foto: Vasco Giacometti. Arquivo: Wagner Langer |
Adorei o trabalho de todos os envolvidos.
ResponderExcluirPatrimônio Queimados pela dedicação com a nosso município, por seu trabalho serio em buscar cada pedacinho da nossa história.
Muito legal a família de Vasco Giacometti ter compartilhado suas memorias.
Parabéns a todos!
Como é bom poder VER nossa história.
Que bom que esse resgate do nosso passado, nossa história, finalmente está acontecendo! Quem sabe assim nosso povo se valorize mais!
ResponderExcluirBonito. É assim que se trabalha. Fazer História é catar todos os caquinhos de um jarro que se quebrou. O trabalho do historiador deve ser feito com humildade; nada deve ser deixado de lado. Uma simples fotografia batida com uma maquininha barata, pode ter um grande valor histórico. Um relato, mesmo claudicante, nos serve.
ResponderExcluirParabéns, equipe de Queimados. vocês sabem das coisas.
Boa tarde, sou o wall araujo, trabalho na secretaria de cultura aqui de Queimados, gostaria de contar com o apoio seu, pois estamos fazendo uma pesquisa sobre os monumentos históricos aqui da cidade e gostaria de contar muito contigo para me enviar a relação dos monumentos históricos com sua biografia, meu email é wall_araujo@yahoo.com.br e o telefone 3770-3697, obrigado e fico no aguardo de uma resposta,
ResponderExcluirabraços
wall araujo