quinta-feira, 1 de maio de 2014

Memórias da Emancipação: Carlos Vilela

Carlos de França Vilela: economista. Era Secretário
de Fazenda de Queimados, quando da realização
da entrevista que resultou nesse artigo.
Nascido na cidade de Bom Conselho, estado de Pernambuco, Carlos Vilela veio para o Rio de Janeiro com menos de um ano de idade. Essa história de vida, iniciada há cerca de 50 anos, encontra eco em outras trajetórias de vida de homens e mulheres que, saindo do nordeste, buscaram se estabelecer nos estados do sudeste. Nessa dinâmica, a Baixada Fluminense se insere como local que absorveu um expressivo contingente migratório, que buscava oportunidades de emprego e sobrevivência na Guanabara. A Baixada Fluminense foi, portanto, o cenário onde esses homens e mulheres inscreveram suas trajetórias marcadas pela luta constante por seus direitos.  “Uma história dentre as várias histórias” contadas por Carlos de França Vilela, economista e Secretário de Fazenda do Município de Queimados, quando da realização da entrevista que nos concedeu gentilmente no dia 15 de abril de 2012. Com esse artigo, pretendemos retomar a rotina de publicações no blog, após um forçado hiato por conta das exigências de um mestrado acadêmico. Esse artigo também abre espaço para a ambição de inaugurar uma série de textos, que deverão ser escritos a partir da análise minuciosa das entrevistas realizadas com as lideranças da AAPQ (Associação dos Amigos para o Progresso de Queimados), que se tornaram a documentação básica para a realização da recente dissertação de mestrado, defendida pela Profª. Claudia Costa e orientada pela Profª. Drª. Marcia de Almeida Gonçalves, junto ao Programa de Pós-Graduação em História da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (PPGH/UERJ).[1]
Ao nos debruçarmos, com o olhar do historiador, sobre a narrativa de vida de Carlos Vilela, identificamos que a família França Vilela se mudou para o Rio de Janeiro gradualmente. Segundo relato de Carlos Vilela, seu irmão mais velho, Waldir, foi o primeiro a vir para o Rio de Janeiro, com o objetivo de avançar nos estudos.  Depois, vieram suas irmãs e seu pai.  Por último, sua mãe e ele.  A família se estabeleceu inicialmente, no bairro de São Cristóvão - RJ.  Posteriormente, por intermédio do irmão Waldir, Carlos e a família moraram, sucessivamente, em São João de Meriti, Itaguaí, Japeri e, finalmente, Queimados. Da época em que chegou a Queimados, quando contava mais ou menos, 7 anos de idade, Carlos Vilela se recorda dos festejos do Centenário da Estrada de Ferro. No evento, que mobilizou vários segmentos da sociedade local, segundo nosso entrevistado, já se falava em emancipação. Porém, como ele próprio admite, tratou-se de uma iniciativa importante, ainda que embrionária.
Outro aspecto interessante, que marcou o final da década de 1950 de acordo com as memórias de Vilela, foi a fundação do Colégio Manoel Pereira, que se tornou, ao longo dos anos, uma referência no âmbito da Educação em Queimados. Foi nessa instituição que o Sr. Carlos deu início a sua educação básica. Dessa experiência, Carlos destaca a oportunidade de conviver com o professor Joaquim de Freitas que, além de fundador desse colégio, se dedicou à carreira política, tendo sido prefeito de Nova Iguaçu pela ARENA, nas décadas de 1960 (interventor em 1966) e 1970 (eleito, entre 1973-75).  A figura do professor Joaquim, se revelaria um grande referencial para o engajamento político que nosso entrevistado afirmou ter, desde a época de seus 17 anos.
Momento de emoção: o entrevistado relembra o
plebiscito frustrado de 1988...
Esse engajamento foi fundamental para sua participação no processo que culminou com a emancipação de Queimados. Com a reabertura política, ao final do Regime Militar Brasileiro, organizou-se em Queimados, o movimento que postulava a necessidade de autonomia político-administrativa para Queimados, diante do descaso das autoridades iguaçuanas para com o seu, então, Segundo Distrito. Essa primeira tentativa, frustrada pela insuficiência de quórum no plebiscito, marcado para julho de 1988 e que deveria decidir a criação do novo município, caiu como uma bomba sobre as cabeças que defendiam a emancipação. Entretanto, a subsequente promulgação da Constituição Federal de 1988, abriu brecha para que o movimento se reorganizasse: Queimados precisava aproveitar o momento de ênfase na defesa dos direitos e na cidadania para conseguir sua autonomia.   
Assim, como fez questão de ressaltar nosso entrevistado, contando com o apoio do, então deputado Paulo Duque, foi encaminhado à ALERJ, outro pedido para que fosse realizada nova consulta plebiscitária na região. Seguindo as orientações desse deputado, os limites do novo município deveriam ser reformulados, excluindo-se regiões como Cabuçu, Engenheiro Pedreira e Japeri: de acordo com Duque, era melhor emancipar um município menor em extensão territorial, mas com maiores possibilidades de desenvolvimento. Foi a partir das orientações desse deputado, que a Associação dos Amigos pra o Progresso de Queimados (AAPQ) também foi criada, como entidade que corporificou os anseios emancipacionistas. A nova tentativa emancipacionista também contou com a assessoria jurídica disponibilizada pelo irmão de Carlos, Waldir, que, por meio das Faculdades ABEU, instituição de ensino superior por ele fundada, já havia adquirido experiência na emancipação de Belford Roxo.
 Carlos Vilela explica, segundo suas memórias, como se deu a tramitação da 
segunda tentativa de emancipação de Queimados: participação 
decisiva do deputado Paulo Duque. 
Assim, o momento político vivenciado pelo Brasil e pelo estado do Rio de Janeiro, assim como a mobilização popular organizada em Queimados foram ingredientes fundamentais para o sucesso do projeto emancipacionistas. Ouvir, registrar e analisar as memórias de lideranças da emancipação, como Carlos Vilela, faz com que as possibilidades de escrever a história desse jovem município sejam muito profícuas.

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[1] COSTA, Claudia Patrícia de O.. Nas disputas das memórias: um estudo sobre narrativas acerca da emancipação do município de Queimados – RJ, na passagem dos séculos XX ao XXI.  Dissertação (Mestrado em História) – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2014.

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