Carlos de França Vilela: economista. Era Secretário de Fazenda de Queimados, quando da realização da entrevista que resultou nesse artigo. |
Nascido
na cidade de Bom Conselho, estado de Pernambuco, Carlos Vilela veio para o Rio
de Janeiro com menos de um ano de idade. Essa história de vida, iniciada há
cerca de 50 anos, encontra eco em outras trajetórias de vida de homens e
mulheres que, saindo do nordeste, buscaram se estabelecer nos estados do
sudeste. Nessa dinâmica, a Baixada Fluminense se insere como local que absorveu
um expressivo contingente migratório, que buscava oportunidades de emprego e
sobrevivência na Guanabara. A Baixada Fluminense foi, portanto, o cenário onde
esses homens e mulheres inscreveram suas trajetórias marcadas pela luta
constante por seus direitos. “Uma
história dentre as várias histórias” contadas por Carlos de França
Vilela, economista e Secretário de Fazenda do Município de Queimados, quando da
realização da entrevista que nos concedeu gentilmente no dia 15 de abril de
2012. Com esse artigo, pretendemos retomar a rotina de publicações no blog,
após um forçado hiato por conta das exigências de um mestrado acadêmico. Esse
artigo também abre espaço para a ambição de inaugurar uma série de textos, que
deverão ser escritos a partir da análise minuciosa das entrevistas realizadas
com as lideranças da AAPQ (Associação dos Amigos para o Progresso de
Queimados), que se tornaram a documentação básica para a realização da recente
dissertação de mestrado, defendida pela Profª. Claudia Costa e orientada pela Profª. Drª. Marcia de Almeida Gonçalves, junto ao
Programa de Pós-Graduação em História da Universidade do Estado do Rio de Janeiro
(PPGH/UERJ).[1]
Ao
nos debruçarmos, com o olhar do historiador, sobre a narrativa de vida de
Carlos Vilela, identificamos que a família França Vilela se mudou para o Rio de
Janeiro gradualmente. Segundo relato de Carlos Vilela, seu irmão mais
velho, Waldir, foi o primeiro a vir para o Rio de Janeiro, com o objetivo de
avançar nos estudos. Depois, vieram suas
irmãs e seu pai. Por último, sua mãe e
ele. A família se estabeleceu
inicialmente, no bairro de São Cristóvão - RJ.
Posteriormente, por intermédio do irmão Waldir, Carlos e a família
moraram, sucessivamente, em
São João de Meriti, Itaguaí, Japeri e, finalmente, Queimados.
Da época em que chegou a Queimados, quando contava mais ou menos, 7 anos de
idade, Carlos Vilela se recorda dos festejos do Centenário da Estrada de Ferro.
No evento, que mobilizou vários segmentos da sociedade local, segundo nosso
entrevistado, já se falava em emancipação. Porém, como ele próprio admite,
tratou-se de uma iniciativa importante, ainda que embrionária.
Outro
aspecto interessante, que marcou o final da década de 1950 de acordo com as
memórias de Vilela, foi a fundação do Colégio Manoel Pereira, que se tornou,
ao longo dos anos, uma referência no âmbito da Educação em Queimados. Foi nessa
instituição que o Sr. Carlos deu início a sua educação básica. Dessa
experiência, Carlos destaca a oportunidade de conviver com o professor
Joaquim de Freitas que, além de fundador desse colégio, se dedicou à carreira
política, tendo sido prefeito de Nova Iguaçu pela ARENA, nas décadas de 1960 (interventor
em 1966) e 1970 (eleito, entre 1973-75).
A figura do professor Joaquim, se revelaria um grande referencial para o
engajamento político que nosso entrevistado afirmou ter, desde a época de seus
17 anos.
Momento de emoção: o entrevistado relembra o plebiscito frustrado de 1988... |
Esse
engajamento foi fundamental para sua participação no processo que culminou com
a emancipação de Queimados. Com a reabertura política, ao final do Regime
Militar Brasileiro, organizou-se em Queimados, o movimento que postulava a
necessidade de autonomia político-administrativa para Queimados, diante do
descaso das autoridades iguaçuanas para com o seu, então, Segundo
Distrito. Essa primeira tentativa,
frustrada pela insuficiência de quórum no plebiscito, marcado para julho de
1988 e que deveria decidir a criação do novo município, caiu como uma bomba
sobre as cabeças que defendiam a emancipação. Entretanto, a subsequente
promulgação da Constituição Federal de 1988, abriu brecha para que o movimento
se reorganizasse: Queimados precisava aproveitar o momento de ênfase na defesa
dos direitos e na cidadania para conseguir sua autonomia.
Assim,
como fez questão de ressaltar nosso entrevistado, contando com o apoio do,
então deputado Paulo Duque, foi encaminhado à ALERJ, outro pedido para que
fosse realizada nova consulta plebiscitária na região. Seguindo as orientações
desse deputado, os limites do novo município deveriam ser reformulados,
excluindo-se regiões como Cabuçu, Engenheiro Pedreira e Japeri: de acordo com
Duque, era melhor emancipar um município menor em extensão territorial, mas com
maiores possibilidades de desenvolvimento. Foi a partir das orientações desse
deputado, que a Associação dos Amigos pra o Progresso de Queimados (AAPQ)
também foi criada, como entidade que corporificou os anseios emancipacionistas.
A nova tentativa
emancipacionista também contou com a assessoria jurídica disponibilizada
pelo irmão de Carlos, Waldir, que, por meio das Faculdades ABEU,
instituição de ensino superior por ele fundada, já havia adquirido
experiência na emancipação de Belford Roxo.
Carlos Vilela explica, segundo suas memórias, como se deu a tramitação da segunda tentativa de emancipação de Queimados: participação decisiva do deputado Paulo Duque. |
Assim, o momento político vivenciado pelo Brasil
e pelo estado do Rio de Janeiro, assim como a mobilização popular organizada em
Queimados foram ingredientes fundamentais para o sucesso do projeto
emancipacionistas. Ouvir, registrar e analisar as memórias de lideranças da
emancipação, como Carlos Vilela, faz com que as possibilidades de
escrever a história desse jovem município sejam muito profícuas.
______________________________________
[1] COSTA, Claudia
Patrícia de O.. Nas disputas das
memórias: um estudo sobre narrativas acerca da emancipação do município de
Queimados – RJ, na passagem dos séculos XX ao XXI. Dissertação (Mestrado em
História) – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade do Estado
do Rio de Janeiro, 2014.
Nenhum comentário:
Postar um comentário