O sábado amanheceu friorento e nublado, mas os participantes da primeira fase do Encontros & Conexões não se incomodaram com isso. A grande maioria estava reunida, pontualmente às 7:30h da manhã e, bastante animados, logo tomou assento em um dos ônibus, disponibilizados pela Secretaria Municipal de Educação de Queimados (SEMED-Queimados) para o evento.
O grupo desembarca na Fazenda São Bernardino: primeira parada da nossa visita técnica. |
Por volta das 8h, os ônibus saíram da Praça dos Eucaliptos, rumo a nossa primeira parada: a Fazenda São Bernardino. Lá, muito além das fotos tiradas nas ruínas, o grupo aprendeu um pouco mais sobre a História de Iguassu e a necessidade de preservação dos lugares de Memória da região. A Fazenda São Bernardino foi construída por ordem de Bernardino José de Souza e Mello, representante da aristocracia agrário-comercial de Iguassu, na segunda metade do século XIX. Hoje, infelizmente, bem pouco sobrou de suas estruturas. Apesar do tombamento, em 1951, o conjunto da fazenda vem sofrendo dilapidações sistemáticas durante todos esses anos: os constantes saques, um incêndio e o desgaste natural têm posto em risco um dos poucos prédios históricos que ainda subsistem na região. Outra ameaça que merece nossa atenção é a construção do Arco Rodoviário, que passará a poucos metros da sede da fazenda e, inevitavelmente, destruirá a alameda de palmeiras imperiais, que ligava a entrada da propriedade à Casa Grande.
Chamando a atenção sobre esses e outros aspectos, os professores Manoel Ricardo Simões e Nielson Bezerra discorreram sobre a dinâmica da ocupação humana na região e a multiplicidade de relações estabelecidas no seio da sociedade iguaçuana dos séculos XVII, XVIII e XIX. O assunto suscitou a curiosidade de vários cursistas, empenhados em compreender um pouco mais sobre a História do seu lugar de origem e visualizar a Iguassu em que o comendador Bernardino José viveu... Da fazenda, seguimos rumo à, outrora, sede da Freguesia de Iguassu. Como ressaltaram os professores Nielson e Manoel: é difícil imaginar como um lugar, hoje abandonado, foi no passado, o agitado centro de uma vila. Da matriz de Nossa Senhora da Piedade de Iguassu, em torno da qual a vila se desenvolveu, sobrou apenas a torre sineira e o cemitério anexo, ainda em atividade. Do outro lado, ainda podemos observar as ruínas do abandonado cemitério da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário. Os ritos religiosos ocupavam um lugar de destaque na mentalidade dos homens e mulheres dos séculos XVII, XVIII e XIX. Na Vila de Iguassu não era diferente! Sobre isso, o professor Nielson fez interessantes colocações a respeito da relação de brancos e negros, livres ou não, com essa religiosidade.
De lá, seguimos até Tinguá, onde foi citada a importância da Estrada de Ferro Rio d'Ouro, aberta para facilitar o abastecimento de água do Rio de Janeiro. Os trilhos dessa ferrovia não mais existem, porém, a estação, a caixa d'água e vários outros sinais desse tempo ainda subsistem em torno da praça central do local. No discurso dos professores, a preocupação com a preservação do Patrimônio Histórico e Natural, uma vez que o Tinguá é mais uma Reserva Biológica ameaçada pelo crescimento urbano desordenado e a especulação imobiliária. A exuberante natureza, combinada com os ecos de um passado não tão distante compõem uma paisagem magnífica. Entretanto, precisávamos seguir em frente...
Assim, nosso trabalho de campo prosseguiu pelo areal, na antiga Estrada das Escravas, atravessando o município de Belford Roxo, rumo a Duque de Caxias. No trajeto, mais sinais do descaso e abandono: verificamos vários "braços" do Rio Iguassu com alto grau de poluição. Em mais uma fala do professor Nielson, ele chamou a atenção para o fato de que a Fazenda de Iguassu ou de São Bento (que o grupo iria visitar na sequência) estendia seus domínios da sede (em Duque de Caxias) até aquele sítio. O grupo, apesar de ver despontar os primeiros sinais de cansaço, continuava viajando no tempo, imaginando como teriam sido todos aqueles lugares, há séculos atrás...
Diante da casa-sede da Fazenda de São Bento: há anos sustentada por escoras que deveriam ser provisórias... |
Chegando ao São Bento, bairro da cidade de Duque de Caxias, seguimos para a sede da fazenda dos beneditinos. Fomos recepcionados pelo professor Antônio Augusto e, após almoço, os cursistas visitaram uma exposição sobre o Patrimônio Histórico Material e Imaterial de Duque de Caxias, cuja preservação é objeto da luta do Centro de Referência Patrimonial e Histórica (CRPH). Visitamos a Capela e a sede da Fazenda de São Bento, bem como a sede do Museu Vivo do São Bento, o primeiro museu de percurso da região. Dando continuidade a nossa visita, fomos até o sítio arqueológico dos sambaquis, uma das paradas obrigatórias para quem visita o Museu Vivo.
Sambaquis do S. Bento: fósseis de homem, mulher e criança envoltos em gesso, para conservação. |
Além dos amontoados de conchas, característicos desse tipo de sítio arqueológico, a presença de três fósseis humanos (um homem e uma mulher, junto à criança) que, devido à precariedade de recursos para sua preservação, encontram-se envolvidos em camada de gesso para que não se deteriorem no tempo. Destacamos que, tal ocupação humana é bem anterior aos Tupinambás, uma das várias tribos indígenas encontrada nesse território, quando da chegada dos portugueses! Assim, os participantes do projeto, mais uma vez, tiveram um exemplo de como a riqueza cultural da nossa terra é imensa, porém, ameaçada constantemente pela insensibilidade ou mesmo descaso do poder público...
Já passava das 16h, quando saímos, rumo à última etapa de nossa atividade de campo: a Igreja de Nossa Senhora do Pilar, ainda em Duque de Caxias. Anoitecia rapidamente e, a despeito do cansaço, muito lamentou-se não termos podido seguir até Magé, e visitarmos a antiga estação de Guia de Pacobaíba. São muitas as riquezas culturais espalhadas ou mesmo escondidas pela Baixada Fluminense e, um dia só, não seria mesmo suficiente para conhecer todas elas...
Todos reunidos diante da igreja de N. S.rª. do Pilar, em Duque de Caxias: última parada da nossa visita! |
O grupo se despediu dessa primeira etapa com um gostinho de "quero mais." Oportunamente, agradecemos à Secretaria Municipal de Educação de Queimados, por ter acreditado e investido na formação continuada dos docentes, no que tange à conscientização, valorização e preservação do Patrimônio Histórico da região. Lembramos ainda que, após as próximas duas semanas de recesso, retornaremos no dia 24/09, com a abertura do curso sobre Metodologia de Pesquisa Histórica, oferecido pelo Núcleo de Estudos da Atiguidade, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (NEA/UERJ).
Os professores reunidos: da esquerda para a direita, Péricles, Claudia Costa, Manoel Simões, Nielson Bezerra, Antônio Augusto e Nilson Henrique. |
Para ver mais fotos da nossa visita técnica à Baixada Fluminense, clique aqui!
PARABÉNSSSSSS!!!!! Aos professores idealizadores deste maravilhoso projeto (Nilson Henrique e Cláudia Costa) e à Prefeitura de Queimados (via Secretaria de Educação)pelo investimento e por acreditar na grandeza histórica, pedagógica e social que podem brotar da Baixada Fluminense!!! Os cursistas e os professores da rede agradecem a oportunidade!!!
ResponderExcluirPenso que, diante de tal relevância,este trabalho trouxe novas pespectivas para o nosso município, regatar e conhecer o nosso passado é uma espécie de passaporte para a busca de um futuro melhor,Afinal, Queimados não é só carnaval.Parabéns aos idealizadores deste projeto e a secretaria de educação por esta iniciativa brilhante. (Tidemi Nascimento)
ResponderExcluirVocês estão de parabéns! Uma conquista para o município e para Baixada Fluminense, pois a valorização e preservação do patrimônio histórico e cultural da nossa região só nos engrandece e faz acreditar que a história pode ser contada por quem a faz (fez) acontecer.
ResponderExcluirProjeto audacioso e talhado ao sucesso.
Cursista Vania Machado
adorei participar da historia da baixada e principalmente de Queimados onde nasci e moro e muita emocionate saber que faço parte dessa historia tão bonita da minha cidade. Estou busccando com meus amigos e vizinhos relatos da nossa cidade, fotos, ajude a crescer o nosso trabalho.
ResponderExcluirQuero que saibam que eu amei ter participado deste grandioso evento.Ter conhecido pessoas inteligentes e legais.Saber mais sobre a minha cidade e de outras cidades também.
ResponderExcluirEu faço parte dessa história!
Quero parabenizá-los e agradecer pela oportunidade.bjs
Rosangela Honorio
Agradeço a Prefeitura de Queimados por esta oportunidade e especialmente aos professores que ficaram a frente deste projeto. Foram aulas maravilhosas, que demonstraram a suma importância do papel da História para a sociedade e como o historiador é o agente que preserva este patrimônio histórico que é a Nossa Baixada Fluminense.Obrigada!!!!!!!!!Bjks!!!!!!!
ResponderExcluirCláudia Carla D.S. de Menezes
Concordo que as pessoas se despediram dessa primeira etapa do projeto com gostinho de quero mais!!! Por que foram aulas maravilhosas, gostaria de agradecer a todos que tornaram esse projeto possível. Aos professores e convidados que tiveram a presteza e nos presentiaram com o seu saber, suas memorias, seus trabalhos galgados a longos anos, e serão esses conhecimentos reproduzidos para as futuras gerações e construindo assim uma identidade social. Valeu equipe!!!! Muito obrigada!!!!!
ResponderExcluirNoélia T. mendes
Agradecemos a todos vocês, o apoio dado a nós e ao nosso trabalho!
ResponderExcluirEsperamos que sejam igualmente proveitosos, os próximos encontros sobre metodologia em História!
Abraços fraternos.