domingo, 5 de junho de 2011

Uma viagem pelas décadas de 80 e 90: Queimados pela ótica de Denis Peixoto e João Batista

Denis Peixoto e João Batista relembram as décadas de 80
e 90 em Queimados.
Seguindo nosso caminho, descobrindo e desvelando histórias por entre casas, esquinas e bairros da cidade, nos encontramos com Denis Peixoto e João Batista.  Com trajetórias de vida convergentes, ambos relembraram, em uma conversa animada, os tempos de infância e adolescência no Centro Educacional Manoel Pereira.  Curiosas lembranças começaram a aflorar a partir de então e nos permitiram traçar o perfil vanguardista de nossos entrevistados.  João lembrou de um episódio que quase culminou com sua expulsão do colégio, pois decidira registrar seu protesto contra a onda inflacionária dos anos 80, na capa de um trabalho de  Matemática.  Em seguida, ambos lembraram um protesto de maior amplitude, que envolveu um considerável número de alunos do Centro Educacional Manoel Pereira, propagando-se para outros colégios da região.  Tendo ainda como base das reivindicações a inflação galopante que marcou boa parte da década de 80 no país, os alunos decidiram fazer uma greve, como forma de protesto contra os aumentos das mensalidades.
Paralamas do Sucesso,
em Queimados, nos anos 80.
 - arquivo Pérsia -
Passamos dos protestos estudantis à militância no PT, no período entre os anos 80 e 90 que, segundo eles, foi marcado por grande efervescência política e cultural em Queimados.  No contexto da redemocratização brasileira, foi nesse período também que foram sistematizados os movimentos em prol da emancipação de Queimados.  Durante a fala dos entrevistados, somos convidados a retornar a Queimados de fins do século passado onde, nos dizeres de João Batista, "respirava-se os ares de liberdade, com o fim da ditadura".  Mergulhamos e nos deixamos envolver por uma Queimados ainda bucólica, mas "antenada" na a dinâmica dos novos tempos, onde os shows e festas no Social Clube, no Queimados e no Guarany* reuniam os jovens da região, tornando-se um espaço de referência e exercício da sociabilidade.  Os entrevistados chegaram a lembrar que várias atrações musicais, no bojo do boom do Rock Nacional, como Paralamas do Sucesso, que "estouravam" nas rádios e programas de televisão da época, fizeram shows nos clubes locais.  Além das festas nos clubes, havia também sala de projeção, festas de rua, desfile de blocos carnavalescos... manifestações culturais que foram sendo engolfadas pela onda da modernidade, como nos permite perceber Denis, quando afirma que "apesar de todas as dificuldades, a falta de outras opções te levavam a participar de uma vida cultural..." O posicionamento de ambos perante essa questão nos leva a refletir sobre o chamado "paradoxo da modernidade", pois nesse caso, na medida em que os meios de comunicação nos aproxima com uma rapidez vertiginosa, também é responsável por um crescente individualismo, superando a necessidade do convívio social real.  Esse paradoxo reside também na crescente homogeneização da cultura regional, em prol de uma padronização cultural que se pretende universal.**
No segundo momento da entrevista, nossos entrevistados lembraram com carinho da criação da rádio comunitária Novos Rumos: a primeira rádio com esse estatuto no Brasil.  Denis relata ter feito parte do grupo que criou a rádio que, de acordo com suas palavras, tinha o objetivo de "tocar para os amigos, aquilo que a gente gosta, para falar aos amigos..." e admite que não imaginavam que a rádio teria tamanha repercussão.  Ambos destacaram o rápido alcance que a rádio Novos Rumos obteve dentro de Queimados, pois abria um canal de comunicação entre os moradores, abordando assuntos de interesse local.  Talvez por isso, mesmo com tantas tentativas de fechá-la definitivamente, alegando tratar-se de uma "rádio pirata" em um tempo em que tudo o que era diferente podia soar como "subversivo", a Novos Rumos tenha resistido bravamente!  Da rádio, João Batista e Denis relembraram ainda, os programas que fizeram grande sucesso, como o Underground, dedicado à música alternativa, e o Fina Flor, tocando músicas "bregas.Será que alguém se lembra de sua própria participação nesses programas?

Da esquerda para a direita: Denis, Prof. Nilson e João Batista: recordando
a criação da Rádio Novos Rumos.
Enfim: desse papo animado, repleto de saudades, ficamos com a sensação de que esses espaços de convivência e exercício político em Queimados estão, lamentavelmente, rareando.  Sinalizamos a necessidade de se pensar políticas que possam reverter esse quadro pois acreditamos que, mesmo com o advento da Modernidade, as raízes ou os fatores que agregam e estabelecem o sentimento identitário entre os indivíduos e o seu local de origem não podem ser postos de lado...


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*Dos três clubes citados, somente o Queimados resiste, embora não mais desempenhando o mesmo papel agregador.  Este fato já havia ficado patente na fala de Jair Borracha e José Cocão, em entrevista anterior e é, agora, reiterado por Denis e João Batista.  O Social Clube ficava em um local onde são guardadas ambulâncias, no Lazareto e o Guarany funcionava em frente à estação ferroviária: o prédio ainda está lá mas o clube não mais existe.   
**Essa discussão é trabalhada com propriedade em BERMAN, Marshall. "Tudo que é sólido, se desmancha no ar: a aventura da modernidade."

2 comentários:

  1. Velhos e muito bons tempos.

    queimadosrio.blogspot.com

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  2. Olá professor Nilson, parabéns por mais esta iniciativa de resgate histórico! Conforme falei no meu último comentário, reproduzi a entrevista do Blog sobre o Queimados futebol Clube com os devidos créditos no nosso blog. Estou pretendendo pesquisar a História da Capoeira na Cultura e no Lazer de Queimados preparando um projeto para o mestrado. Gostaria de contar com a sua preciosa contribuição. Abraços! Profª Denise Guerra - Escola Washington Manoel de Souza. denise.guerra@yahoo.com.br

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